Tudo se rondou a pergunta que dá nome ao texto:
"Aline, me diz... eu vou amar meu filh@?'
A gravidez da minha primeira filha, Laura, foi quase - ou foi - como um conto de fadas. Tudo era lindo, perfeito, planejado, desejado e amado. Amava o feto com rabo, o feto sem rabo, o feto para nascer, as roupas, o canto, o quarto, os brinquedos e a imaginação.
Amei o bebê que nasceu, a rotina, o cheiro, o chamado, o colo e a novidade.
Amava tudo. Como no finais dos contos mais antigos da Disney.
Foi aí que resolvi engravidar outra vez. Era novembro de 2013 e tomamos essa decisão, os meses passaram e eu não engravidei. Resolvi tocar a vida - trabalho, faculdade, projetos futuros.
A gravidez ficou em milésimo plano. Resolvi que não era mais a hora, não tinha mais essa vontade, nem esse tempo, nem essa tolerância.
Em primeiro de junho descobri a Gravidez com todos os estereótipos negativos imaginados: não desejada, não planejada, não era a hora, não tinha o humor.
O que seguiu-se foi um dos momentos mais pretos da minha vida. 9 meses gestando um ser que você era OBRIGADO a amar, Era OBRIGADO a demonstrar amor e o que você só conseguia sentir era: Rejeição, dor (es), tristeza infinita, choros inconsolados e quase nunca ter passado a mão no corpo que se modificara tanto para parir aquele ser.
Meu único ponto de apoio - e de realização - seria se eu parisse em casa (um desejo tão antigo quanto a filha mais velha) e me agarrei a essa realização, como se eu agarra-se em um fio que me manteria com a cabeça fora da água.
Eu tive inúmeros problemas na gestação: depressão, desmaios constantes, enjoôs, azia infernal, anemia e por aí a fora. Eu não comia, não dormia e qualquer momento de solidão eu tinha medo de fazer merda. Mergulhei em estudos infinitos, peguei projetos loucos e mantinha minha cabeça fora da gravidez - a todo custo. Tornou-se o momento que mais trabalhei e estudei em quantidade de horas e de qualidade na vida.
Cada vez que eu ouvia a batida do coração, minha vontade era de vomitar. No ultrassom, cheguei a desejar que não encontrassem vida.
Tudo ia quase perfeito com o bb2. Ele se desenvolvia, soluçava como louco como se quisesse ser percebido pela mãe, chutava o dia inteiro e sempre, sempre, sempre mantinha-se de cabeça para baixo desde as 12 semanas.
9 meses eu conheci o pior de mim. O pior que eu poderia chegar: desejar mal ao seu próprio filho ou não deseja-lo.
Os meses se passaram, a barriga pesava e eu só queria o bebê fora de lá.
Foi no fim de dezembro que me tornei gestação de risco e eu não mais poderia parir em casa.
Meu mundo caiu...
Meu fio se arrebentou e eu tinha que me agarrar a outra coisa... ou encarar o fato: Eu estava grávida. de OITO meses. E essa gravidez não tinha nada haver com o local que eu ia parir, mas com uma vida que ia se entrelaçar a minha pelo resto da vida.
Eu cheguei daquela consulta e entrei no chuveiro, sozinha.
Sentei e chorei copiosamente por um tempo e pela primeira vez naquela grávidez eu conversei com o bb2 e através de uma musica eu lhe prometi: "Olha eu vou lhe mostrar, como é belo esse mundo, já que nunca deixaram no seu coração mandar.... eu lhe ensino a ver, todo encanto e beleza, que há na natureza num tapete a voar(...)"
Eu lhe pedi desculpas pelo que sentia e pensava, mas que não tinha o controle. Eu comecei a imaginar seus contornos - pela primeira vez - seu cabelo moreno (que visualizei muitas vezes depois) e conversei que para a nossa relação realmente se acertar eu precisava que ela nascesse daquela forma, em casa, cercada por amor - e não por violência - eu precisaava ser a primeira a pega-la, eu precisava sentir o cheiro do vernix e ver o cordão pulsar por vários minutos. Eu precisava que a ocitocina agisse em meu corpo como um veneno fatal do Amor e por fim desejei que o parto fosse bem dolorido e demorado, como pagar pelos "pecados"
Nos dias que se seguiram me bateu medo. Medo da criança não ser perfeita, não ter o desenvolvimento normal, ser muito chorona ou qualquer outra coisa ruim, mas a verdade é... que eu ainda continuava não amando, não gostando da situação e tinha como objetivo máximo, me livrar da barriga, mas ao menos eu estava - tentando - encarar a realidade.
A barriga contou os 9 meses com um carinho sem igual da irmã:
Consultas depois, tratamento pesado para combater anemia e faltando dias para a DPP (dia provável do parto) eu consegui atorização para parir em casa. só aguardava esperar. e de "só" eu quero dizer que bastava continuar sentindo dores na coluna, contrações doloridas, azia, tristeza, insônia e um peso em um calor surreal. Só.
E finalmente chegou o dia. E no dia eu acordei feliz, renovada. Como se fosse um começo de uma era. Senti as contrações e apesar de doloridas... tudo bem. Nada anormal, nada muito dolorido e nem perto do que senti no parto da Laura. eu estava feliz, mas não acreditava ainda que de mim saíria um serzinho. não acreditei até muito depois dela ter saído.
Mas eis que em sua expulsão para o mundo, eu peguei o ser mais Lindo e perfeito que eu tinha visto na vida. E eu chorei. Chorei e chorei e disse tantos pedidos de desculpas, de tantas formas.
E agradeci pela morenice, pela perfeição, pelo cabelão e por ter me escolhido como mãe.
Os dias que se seguiram foi como começo de namoro, cada dia mais apaixonada. Mas contei com um pós parto tenso e difícil em todos os sentidos. Era difícil lidar com as crianças, era difícil lidar comigo mesmo, era difícil em tudo. Mas o amor?
Ah! Sim... ele veio como um tornado. Me derrubou no chão e tomou conta do meu coração (apesar da rima grotesca).
E hoje sou perdidamente, completamente, apaixonada pelas minhas filhas.
Mas não, não sinto falta de forma alguma da gravidez. rs
Então cara amiga,
Se dê um tempo, que com certeza você vai amar o seu filh@, do seu jeito, na sua hora e não quando as pessoas te impõem ama-lo.
Com muito carinho e compreensão,