segunda-feira, 25 de junho de 2012

Laura Gutman - leitura obrigatória!


Igual na faculdade, para ser mãe deveria ter uma lista de leitura obrigatória (e opcionais também, que nunca ninguém lê, mas sempre acaba caindo na prova).
Pois é, este é um livro da lista obrigatória, que eu gostaria de ter lido ainda na gravidez.
É um livro para se ler com um pouco de crítica em cima, tem umas coisas que não acredito muito... mas outras fazem o total sentido.
Basicamente ela mostra que o filho neném nada mais é que uma sombra da mãe, ele reflete todos os sentimentos, o inconsciente e até mesmo o passado da mãe (!!). Ela acredita na "telepatia" entre a mãe e o neném (não exatamente como a gente esta acostumada a imaginar...mas parecido), demonstra que falar com o bebê, contar os nossos anseios, as nossas frustrações, explicar a hora de tomar banho, trocar a fralda, por mais minúsculo que bebê seja, reflete em um bebê mais feliz, mais calmo.... em fim  muito mais coisas, que só lendo. As vezes a gente fica tão interessada em saber sobre roupinhas, brinquedos, se tá cagado, se ri, se rola, se já fala e não pensa em cuidar do mais importante,que EU acredito ser... a Alma deste serzinho em formação. 

2 experiências próprias na qual eu imagino que ela tenha ajudado (e que provavelmente já expus uma delas aqui)

No 8 mês Laura estava sentada, o que caía drasticamente a chance de um PN (parto normal), fiz como a Laura Gutman recomendou, conversei com a minha filha, expliquei o porque era melhor ela virar e estar de cabeça para baixo, falei muitoooooo e ela virou *-*, no mesmo dia. - pode ser coincidência? PODE! mas e se não for? fez algum mal? não né?

Essa semana ela estava doentinha (esta ainda), e acordou centenas de vezes no meio da noite, na última vez, com os pais estressado, tentei conversar com ela e explicar o porque era bom dela dormir bem a noite, da gente dormir bem e que tudo ia melhorar, a guria dormiu (pode ser que ela estivesse exausta e iria dormir do mesmo jeito? pode sim...mas como disse, não lhe fez mal).

Também criei o hábito de avisar se eu sair, explicar para aonde eu vou, que horas eu volto, hora de trocar fralda (aqui em casa conhecido como "vamos para sala de cirurgia"/ não sei da aonde eu tirei isso!), acredito que ela entende sim (não as palavras, mas que eu lhe dei uma explicação, um motivo) e ela fica mais calma. 

Olha, leitura recomendadíssima, acho que uns 70% do livro da para tirar para uma vida toda. 
Ta aí, bora vê se faço uma lista maternidade de leitura obrigatória, leitura opcional e leitura proibida( acho que essa vai ser a lista mais longa, infelizmente, muita coisa mais atrapalha que ajuda :/)

#dadaadica

Trecho:


"Todas as mães são capazes, desde que tenham um mínimo de apoio emocional, de amamentar, ninar, higienizar um bebê, de proporcionar cuidados físicos necessários à sua sobrevivência. São treinadas para esta tarefa brincando com bonecas durante toda a infância. A dificuldade aparece quando é necessário reconhecer, no corpo físico do bebê, o surgimento da alma da mãe, em toda sua dimensão. Devem admitir sua fragilidade, como "mãe-bebês". Cuidar-se como tal. Respeitar-se com essas novas qualidades. Ser paciente nesta fase tão especial e não exigir de si um rendimento igual ao habitual. Abrir-se à sensibilidade que é aguçada e à percepção das sensações que são vividas com um coração imenso e um corpo que elas, mães, sentem pequeno porque são, ao mesmo tempo, bebê e pessoa adulta. É como ter o coração aberto, com suas misérias, alegrias, inseguranças, com todas as situações que precisam ser resolvidas, com o que lhes falta compreender. É uma carta de apresentação frágil: isto é o que sou no fundo de minha alma; sou este bebê que chora. Poderíamos considerar uma vantagem exclusiva das mulheres a possibilidade de desdobrar o corpo físico e espiritual, permitindo que as dificuldades ou as dores pessoais se manifestem com absoluta clareza. O bebê sente como se fossem seus todos os sentidos da mãe, sobretudo aqueles dos quais ela não tem consciência. A maioria das mulheres não aproveita essa vantagem de ter a alma exposta; é arriscado encarar a própria verdade. No entanto, este é um caminho que inevitavelmente elas percorrerão, embora seja pessoal a decisão de fazê-lo com maior ou menos consciência. Por isso, ao tentar entender o processo de compreensão dos bebês e das crianças muito pequenas, é indispensável não esquecer que o ser com quem tentamos nos comunicar é, ao mesmo tempo, a mãe que o habita. De fato, as pessoas que trabalham com crianças pequenas deveriam encontrar uma maneira de agir em união com a mãe. Sem a informação pessoal da mãe, sobretudo a informação a que se deve recorrer para que venham à tona, as manifestações das crianças carecem de sentido. Qualquer expressão incômoda do bebê é apenas a melhor linguagem que encontrou para se comunicar.Não é o que acontece; é apenas um modo viável de se expressar .Quando nossa alma é exposta no corpo do bebê, é possível ver mais claramente as crises que ficam guardadas, os sentimentos que não nos atrevemos a reconhecer, os nós que continuam enredando nossa vida, o que está pendente de resolução, o que descartamos, o que é inoportuno. Às vezes as crianças expõem as crises de maneira tão contundente que só assim tomamos consciência da importância ou da dimensão de nossos sentimentos. Porque tendemos a não lhes dar maior atenção, a considerá-los banais e a relegá-los à nossa sombra.Criar bebês é muito árduo porque, assim como a criança, para ser, entra em fusão emocional com a mãe, esta, por sua vez, entra em fusão emocional com o filho para ser. A mãe passa por um processo análogo de união emocional. Ou seja, durante os dois primeiros anos, é fundamentalmente uma "mãe-bebê". As mulheres puérperas têm a sensação de enlouquecer, de perder todos os espaços de identificação ou de referência conhecidos; os ruídos são imensos, a vontade de chorar é constante, tudo é incômodo, acreditam ter perdido a capacidade intelectual, racional. Não estão em condições de tomar decisões a respeito da vida doméstica. Vivem como se estivessem fora do mundo; vivem, exatamente, dentro do "mundo-bebê” .E é indispensável que seja assim. A fusão emocional da mãe com o filho é o que garante que a mulher estará em condições emocionais de se desdobrar para que a cria sobreviva. O desdobramento da alma feminina ou a sua fusão emocional com a alma do bebê é indefectível, mesmo que este processo seja inconsciente. A decisão de trazê-lo à consciência é pessoal. Vale a pena esclarecer que este processo nos surpreende porque não o esperávamos, e em geral costumamos rotular de mil maneiras as sensações incongruentes das mães e as queixas indecifráveis dos bebês. Em muitos casos, são diagnosticadas "depressões pós-parto", quando a única coisa que acontece é um brutal encontro da mãe com a própria sombra."
por Laura Gutman em "A Maternidade e o Encontro com a Própria Sombra", p: 24-26