Igual na faculdade, para ser mãe deveria ter uma lista de leitura obrigatória (e opcionais também, que nunca ninguém lê, mas sempre acaba caindo na prova).
Pois é, este é um livro da lista obrigatória, que eu gostaria de ter lido ainda na gravidez.
É um livro para se ler com um pouco de crítica em cima, tem umas coisas que não acredito muito... mas outras fazem o total sentido.
Basicamente ela mostra que o filho neném nada mais é que uma sombra da mãe, ele reflete todos os sentimentos, o inconsciente e até mesmo o passado da mãe (!!). Ela acredita na "telepatia" entre a mãe e o neném (não exatamente como a gente esta acostumada a imaginar...mas parecido), demonstra que falar com o bebê, contar os nossos anseios, as nossas frustrações, explicar a hora de tomar banho, trocar a fralda, por mais minúsculo que bebê seja, reflete em um bebê mais feliz, mais calmo.... em fim muito mais coisas, que só lendo. As vezes a gente fica tão interessada em saber sobre roupinhas, brinquedos, se tá cagado, se ri, se rola, se já fala e não pensa em cuidar do mais importante,que EU acredito ser... a Alma deste serzinho em formação.
2 experiências próprias na qual eu imagino que ela tenha ajudado (e que provavelmente já expus uma delas aqui)
No 8 mês Laura estava sentada, o que caía drasticamente a chance de um PN (parto normal), fiz como a Laura Gutman recomendou, conversei com a minha filha, expliquei o porque era melhor ela virar e estar de cabeça para baixo, falei muitoooooo e ela virou *-*, no mesmo dia. - pode ser coincidência? PODE! mas e se não for? fez algum mal? não né?
Essa semana ela estava doentinha (esta ainda), e acordou centenas de vezes no meio da noite, na última vez, com os pais estressado, tentei conversar com ela e explicar o porque era bom dela dormir bem a noite, da gente dormir bem e que tudo ia melhorar, a guria dormiu (pode ser que ela estivesse exausta e iria dormir do mesmo jeito? pode sim...mas como disse, não lhe fez mal).
Também criei o hábito de avisar se eu sair, explicar para aonde eu vou, que horas eu volto, hora de trocar fralda (aqui em casa conhecido como "vamos para sala de cirurgia"/ não sei da aonde eu tirei isso!), acredito que ela entende sim (não as palavras, mas que eu lhe dei uma explicação, um motivo) e ela fica mais calma.
Olha, leitura recomendadíssima, acho que uns 70% do livro da para tirar para uma vida toda.
Ta aí, bora vê se faço uma lista maternidade de leitura obrigatória, leitura opcional e leitura proibida( acho que essa vai ser a lista mais longa, infelizmente, muita coisa mais atrapalha que ajuda :/)
#dadaadica
Trecho:
"Todas as mães são capazes, desde que tenham
um mínimo de apoio emocional, de amamentar, ninar, higienizar um bebê, de
proporcionar cuidados físicos necessários à sua sobrevivência. São treinadas
para esta tarefa brincando com bonecas durante toda a infância. A dificuldade
aparece quando é necessário reconhecer, no corpo físico do bebê, o surgimento
da alma da mãe, em toda sua dimensão. Devem admitir sua fragilidade, como
"mãe-bebês". Cuidar-se como tal. Respeitar-se com essas novas
qualidades. Ser paciente nesta fase tão especial e não exigir de si um
rendimento igual ao habitual. Abrir-se à sensibilidade que é aguçada e à
percepção das sensações que são vividas com um coração imenso e um corpo que
elas, mães, sentem pequeno porque são, ao mesmo tempo, bebê e pessoa adulta. É
como ter o coração aberto, com suas misérias, alegrias, inseguranças, com todas
as situações que precisam ser resolvidas, com o que lhes falta compreender. É
uma carta de apresentação frágil: isto é o que sou no fundo de minha alma; sou
este bebê que chora. Poderíamos considerar uma vantagem exclusiva das mulheres
a possibilidade de desdobrar o corpo físico e espiritual, permitindo que as
dificuldades ou as dores pessoais se manifestem com absoluta clareza. O bebê
sente como se fossem seus todos os sentidos da mãe, sobretudo aqueles dos quais
ela não tem consciência. A maioria das mulheres não aproveita essa vantagem de
ter a alma exposta; é arriscado encarar a própria verdade. No entanto, este é
um caminho que inevitavelmente elas percorrerão, embora seja pessoal a decisão
de fazê-lo com maior ou menos consciência. Por isso, ao tentar entender o
processo de compreensão dos bebês e das crianças muito pequenas, é
indispensável não esquecer que o ser com quem tentamos nos comunicar é, ao mesmo
tempo, a mãe que o habita. De fato, as pessoas que trabalham com crianças
pequenas deveriam encontrar uma maneira de agir em união com a mãe. Sem a
informação pessoal da mãe, sobretudo a informação a que se deve recorrer para
que venham à tona, as manifestações das crianças carecem de sentido. Qualquer
expressão incômoda do bebê é apenas a melhor linguagem que encontrou para se
comunicar.Não é o que acontece; é apenas um modo viável de se expressar .Quando
nossa alma é exposta no corpo do bebê, é possível ver mais claramente as crises
que ficam guardadas, os sentimentos que não nos atrevemos a reconhecer, os nós
que continuam enredando nossa vida, o que está pendente de resolução, o que
descartamos, o que é inoportuno. Às vezes as crianças expõem as crises de
maneira tão contundente que só assim tomamos consciência da importância ou da
dimensão de nossos sentimentos. Porque tendemos a não lhes dar maior atenção, a
considerá-los banais e a relegá-los à nossa sombra.Criar bebês é muito árduo
porque, assim como a criança, para ser, entra em fusão emocional com a mãe,
esta, por sua vez, entra em fusão emocional com o filho para ser. A mãe passa
por um processo análogo de união emocional. Ou seja, durante os dois primeiros
anos, é fundamentalmente uma "mãe-bebê". As mulheres puérperas têm a
sensação de enlouquecer, de perder todos os espaços de identificação ou de
referência conhecidos; os ruídos são imensos, a vontade de chorar é constante,
tudo é incômodo, acreditam ter perdido a capacidade intelectual, racional. Não
estão em condições de tomar decisões a respeito da vida doméstica. Vivem como
se estivessem fora do mundo; vivem, exatamente, dentro do "mundo-bebê” .E
é indispensável que seja assim. A fusão emocional da mãe com o filho é o que
garante que a mulher estará em condições emocionais de se desdobrar para que a
cria sobreviva. O desdobramento da alma feminina ou a sua fusão emocional com a
alma do bebê é indefectível, mesmo que este processo seja inconsciente. A
decisão de trazê-lo à consciência é pessoal. Vale a pena esclarecer que este
processo nos surpreende porque não o esperávamos, e em geral costumamos rotular
de mil maneiras as sensações incongruentes das mães e as queixas indecifráveis
dos bebês. Em muitos casos, são diagnosticadas "depressões
pós-parto", quando a única coisa que acontece é um brutal encontro da mãe
com a própria sombra."
por Laura Gutman em "A
Maternidade e o Encontro com a Própria Sombra", p: 24-26