Laura de fato foi uma criança planejada e super bem vinda em casa, em toda a plenitude de contos de fadas. Heloísa, em outra situação veio em um momento conturbado e de interesses diversos, mas tomou conta da casa.
Se existir um opressor - inconsciente é claro - esse opressor é o caçula. Que chega e toma conta dos pais, da casa e dos brinquedos com a desculpa perfeita de não ter entendimento do seu redor - mesmo que tenha.
Ontem foi só mais um dia que deixei de atender o pedido de colo da Laura, por já ter no meu colo a Heloísa, que desconfio que ali só estava por ser aquele o objeto de desejo da irmã.
Também é nos brinquedos que Laura perde - "empresta para ela só um pouco", "putz, que pena que amassou o seu desenho", "ah, ela puxou o seu cabelo porque não sabe ainda que não pode", enquanto isso a mais velha é punida severamente pelos mais banais erros - ou barulhos. "Não cante agora, estou colocando sua irmã para dormir", "coma com a boca fechada", "Não encoste agora que finalmente sua irmã saiu do colo e vou poder fazer a janta". Se muitas vezes é deixada suas vontades para depois, muitas vezes esse depois nem chega a chegar.
Sem contar as inúmeras responsabilidades que foram acarretadas em cima da sua pequena idade, guardar seus brinquedos e da irmã "por favor filha, mamãe já fez muita coisa hoje", jogar a fralda no lixo/cesta "só tem xixi filha, pode levar", tirar sua própria e aguentar necessidades básicas em pró do ser que ainda não fala, "já pego sua água, deixa eu só trocar sua irmã que não para de chorar".
Cabe nós os pais a tentar mediar estas transições de forma que não pese e não oprima o mais velho. Mas como? Sendo muitas de nós as únicas cuidadoras ao longo de todo o dia.
Aqui não consigo - ainda - sair do lugar comum de fala e de cobrança, se bem que já consciente tento deixar algumas coisas sem fazer mesmo (deixo fralda suja no meio da sala até que EU possa recolher, deixo os brinquedos jogados de vez em quando até que EU possa recolher, deixo a janta para depois em pró de um colo para a mais velha - se bem que essa alternativa é bem problemática quando se junta sono + fome = combinação explosiva) e tiro todos os dias alguns minutos (aqui entre escola da mais nova e da mais velha) para conversar com Laura, o que surte um efeito desejável como uns sussurros de "eu te amo" no ouvido em horários inusitados.
Também de fato - e não digo que seja correto, mas que aqui ocorre- compro muito mais coisas para Laura - talvez por ter entendimento de fato - do que para a Heloísa.
Ontem comprei uma luva no centro, por 4,00 dilmas. Ao abrir o pacote ela gritava de euforia e de emoção, não tirou a luva até agora e volta e meia vem me agradecer pelo "presente mais bonito de todos" que a "mamãe cheia de corações" deu a ela.
De fato a igualdade entre as meninas ainda não esta consumada. A Laura certamente ainda esta em opressão, menos, mas ainda... Agora Heloísa crescendo e o entendimento ao redor aumentando vai ficando mais fácil essa "jogada" de ministrar atenções e alforrias.
Ter dois filhos não é fácil, mas é gratificante.
Enquanto isso, as duas se complementam e se amam (como todos os irmãos?) e por mais que esses anos de irmã mais velha não tenham sido fáceis, foi certamente de grande aprendizagem.