sábado, 16 de julho de 2016

Se você pudesse voltar atrás, você teria filhos?

Teria.

Eu sempre idealizei a maternidade (oras, é só olhar minhas primeiras postagens, não é nem preciso imaginar).

Lembro pequena de forçar a imaginar os rostos que meus filhos teriam. Lembro de quere-los arduamente desde os 16 anos. Lembro de ter feito uma poupança aos 19 anos para tê-los. Lembro de usar essa poupança para comprar roupas e sapatos aos 21 anos antes de engravidar.

Então sim, eu queria mais do que tudo tê-los. E eu teria. Porque não poderia passar mais anos só tentando imaginar como seria a vida com eles, eu precisava respira-los na minha vida. Eu precisava viver a vida com eles.

Antes de nascer, muitas imagens negativas vieram de outras pessoas de como é ser mãe: "estraga sua vida", "engorda", "custa", "acaba com  você", " peito pequeno não amamenta", "Cesárea"...

Muitas delas me chateavam: "você não sabe o que é ser mãe" - Alguém sabe antes de sê-lo?

Por muito tempo o mal da maternidade foi os julgamentos, não os filhos.
Por mais tempo, o mal da maternidade, foi a falta de empatia, não os filhos.
Durante esse tempo, os pitacos foram o mal da maternidade.

Mas hoje vejo que tudo isso faz parte da maternidade. Lidar com estas situações são como trocar fralda, dar de mamar ou dar banho.

É claro que não deve-se conformar, mas subtrair - ou melhor - romper essas situações. Não reproduzi-las, não difundi-las. Ainda espero que minhas filhas ao optarem por serem mães, não precisem pensar em como os outros vão lidar com isso.

Não, isso não é o único fator problemático de se ter um filho. E aí que me pergunto: Se eu soubesse que nunca mais  que não iria mais dormir durante um bom tempo durante a madrugada, eu talvez ficaria em dúvida se eu queria mesmo ter um filho. Se fosse 1 ano eu até toparia - acho - se fosse dois, talvez.. mas faz 4 anos que sigo nesse ritmo e sim! eu faria de tudo para dormir a noite toda novamente durante todas as noites da minha vida (aí aí aí). Mas o não dormir é certo, o incerto era aquela vontade do ventre querendo bebê e não o tendo.

Quando recebi minhas filhas no braços, a sensação de plenitude foi muito gostosa. Eu olhava para elas e via que realmente: Eu passei a vida inteira esperando pelo momento de embala-las. 

É claro que a rotina cansa, os dias cansam, a vida cansa e ficam raros os momentos da gente lembrar que era essa - e exatamente essa - a família que a gente passou desde os 6 anos pedindo! ( e sim, eu sei, teve toda uma construção social de mulher tem que ser mãe, do que propriamente biológica. Ainda assim, como fui uma menina que muitas vezes fugi do padrão (em roupas, em comportamento) e esse eu me permitir seguir, é porque de alguma forma eu queria aquilo).

Apesar de eu ter parado esse texto durante dúzias de vezes, para acudir crianças. Por mais que eu nunca consiga escrever como eu gostaria. As vezes nem conversar como gostaria. Por mais que eu não consiga escrever no projeto de mestrado como eu gostaria... Eu tenho elas. E elas me permitiram continuar na universidade, continuar a gostar de escrever, entrar no mestrado e ter toda a vida que tenho hoje. Criativa, divertida e louca. E com sono. E sem poder tomar banho ou cagar em paz. E sem poder comer chocolate quando eu quiser. E sem poder contar que eu vou estar em qualquer compromisso. E quase sem beber.

É eu teria filhos, por mais que eu soubesse de tudo isso. Não ter filhos é um grito revolucionário. Mas tê-los também é outro grito. Revolucionar faz parte da maternidade consciente (ou enlouquecente?)  e facilitar estas escolhas (ter ou não ter filhos?) faz parte da nossa maternidade atual para com os nossos filhos (e sobrinhos, e crianças) .

Eu - Aline - teria filhos mesmo sabendo de tudo isso. Ainda assim, percorreria o mesmo e exato caminho que percorri. Mas você não é a Aline, você não sou eu. Porque maternidade é realmente "padecer no paraíso". Não existe ninguém menos gente que uma mãe. Ao menos na atualidade - e que mude! E que mude!


Créditos:
Texto escrito aos sons de uma cadeira sendo arrastada para lá e para cá.
Durante o texto eu dei 6 vezes de mamar.
Levei 1 vez uma menina de 4 anos para fazer xixi.
Dei 1 almoço.
Troquei 1 fralda.

Por milagres, nenhum acidente aconteceu na produção desse texto.
Infelizmente, nenhum cocô também (bebê com prisão de ventre, e não existe desejo maior de mãe que ver um cocô nessas situações).