segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Criação com apego não cria robôs.

Uma das coisas que a gente sempre ouve sobre criação com apego é que dá origem a uma criança "apegada", dependente, anti-social e chorosa, justamente porque a tradução do inglês "attachment parentig" foi mal feita, na verdade ela propõem justamente o contrário, sem regras bem definidas de como criar a criança, ela somente propõem que você respeite o tempo e os sentimentos da criança, dando colo sempre que precisa. Baseando-se em alguns estudos sobre fases e como uma criança interpreta o mundo.
Existem dois erros bem opostos que as pessoas acreditam sobre isso:
1) A criança sempre tem tudo o que quer: O que é mentira, obviamente, mas ninguém que pratica criação com apego vai deixar uma criança chorando no berço com meses de vida "para aprender" a dormir, porque sabemos que ela não tem capacidade para tal ainda e que o que levará ao sono será a exaustão e a formação de alta adrenalina que prejudicará a independência do cérebro futuro, por exemplo, mas repreenderá se bater,  morder, a sair correndo na rua e etc, quando o cérebro já estiver preparado e com mais facilidade do que uma criança que sempre foi vencida pelo medo. (ou seja, criação com apego não é uma "criação", você não aprende como repreender, existem mil modos, mas todos tem que ter a linha do respeito).

2) A criança que recebeu criação com apego é bonzinha:

E é nesse tópico que eu vou me estender mais. Acho que muitas mães esperam que o resultado da criação com apego seja um robôzinho. Desculpe, mas isso é uma falácia gigante. Não tem como você esperar que uma criança de 2 anos e meio (a minha por exemplo), seja independente e robô ao mesmo tempo e pior que não dê trabalho!( Aceite, toda criança dá trabalho...). Ela quer se vestir sozinha, lavar a mão sozinha, ir no banheiro sozinha, passar manteiga com a faca sozinha, quer andar na rua sem dar mãos dadas, quer comer sozinha, sobe em tudo sozinha e isso leva tempo e paciência porque tudo é mais devagar do que se eu fizesse por ela, dá muito mais bagunça e nem sempre ela tem a habilidade desenvolvida para tal afazer, com que faz que ela se fruste e fique muito chateada por não ter conseguido "fazer sozinha".
Calma, o trabalho ainda não acabou... como você trata a criança como um ser humano, ou seja, como um membro da sua família e com respeito, você pergunta para ela o que ela quer, isso não significa que ela vai ser atendida no seu pedido, mas vai ser ouvida, o que pode gerar outra frustração no começo, mas pode ser muito bom para ela entender que o respeito também deve partir dela. Por exemplo: "Mamãe vai dormir, você quer ficar brincando na sala com o papai ou ir com a mamãe?" isso é uma escolha dela, ela pode falar "não quero que a mamãe durma", mas eu irei dormir de qualquer forma, e sim gera um estres inicial que bastando uma conversa de "A mamãe esta carregando um neném, esta cansada, precisa ir... o papai brinca com você de X, Y, Z" ela se acalma, outros momentos não tem como perguntar, "vamos embora da casa do vovô, já esta tarde" e ela não aceitar, vai rolar aquele momento de choro e levamos ela assim mesmo - o que passa 2 minutos fora do local ela já se acalma e a gente explica.
Também acabamos criando uma criança de opinião e depois de passada a fase do "não", muita da opinião que ela sabe dar é justamente o "não", rs, ou seja não é nada fácil  e nada robô, mas ensina desde muito cedo que a opinião dela vale sim, ensina a não abaixar a orelha em situações conflitantes - porque o mundo precisa de pessoas que tenham opinião e briguem por ela - e também a aceitar as consequências e causas de suas ações. O que leva com o tempo ela ter mais cautela no que for falar ou fazer, por exemplo, se ela se recusar a comer macarrão (o que não acontece, mas como exemplo) e não tiver outra opção, ela não come e a consequência é passar fome, o que fará com que ela pense duas vezes antes de repetir o não na próxima refeição.
Isso não significa que não existem regras, mas elas são mais "coerentes" e não são feitas na hora e são poucas. Aqui em casa existe muito o termo "acabar acabou" que é uma regra - sim regra - de que algo esta acabando e quando acabar devemos aceitar - com alguma explicação -  televisão, ultima brincadeira antes de dormir, celular e outras coisas que devem se limitar para a continuação da rotina - então ela esta brincando com alinhavo e vai dar 9 da noite (hora de dormir, rotina é uma questão central em casa), então eu falo: "Laura esta acabando", ela normalmente responde "tá bom" e continua a brincar, dando 5/10 minutos de brincadeira eu falo: "acabou Laura, hora de guardar e ir dormir", ela já para na hora, guarda o brinquedo, desliga a luz, faz xixi e vem dormir. Sim, virou rotina e ela entendeu, se ela não guardar eu explico que aquele brinquedo ela não vai poder mais brincar nos próximos dias (ou o celular ou assistir a tv) eu cumpro minha palavra sempre explicando o porque dela não brincar com aquele brinquedo  e ela raramente reivindica quando isso acontece e raramente ela não obedece essa regra. Lembrando que tudo que estou falando faz parte do nosso modelo pessoal de criação e que a criação com apego faz é justamente dá uma diretriz para o respeito mútuo (com respeito a fases, muita explicação, e muito aconchego - sim, nada de recusar um colo ou um amor).

Em contra-posição temos uma criança super carinhosa, que ajuda muito - MUITO em várias situações e que é super compreensiva (volta a pé da escola, recolhe os brinquedos depois de brincar - na maioria das vezes - entende se não estou bem e faz carinho, vai para o banho quando é chamada, come na hora certa e se não tiver influencias de tecnologia (nem com fome e nem sono) , esta sempre de bom humor, é criativa, independente, brincalhona e muito sociável.

Me pego algumas vezes por semana falando e suspirando alto: "Que sorte que eu tenho de te-la ao meu lado."

Isso não significa que é fácil, mas significa que muitas e muitas vezes ela me surpreende de uma maneira bem gostosa.